quinta-feira, 26 de abril de 2012

Um mundo bonito se transformou. O mundo agora se cala para sempre no mesmo lugar. Talvez o arroto que saia agora de minha boca queira dizer nada ou apenas que estou de saco cheio. Não de tudo, mas de muita coisa. Esta caneta macia que desliza no papel me faz esquecer a fome e meu estômago acaba de me lembrá-la, roncando. Ouvir uma fala inteligente é um prazer. E sinto orgulho pela pessoa que me fala agora. Música clássica me apraz. Um sussurro firme me atravessa e tenho vontade de estar perto dele agora. De olhar para ele e de abraçá-lo. A fome me lembra mais uma vez de que sou humana. A pessoa que me fala é boa; porém, prolixa. O que ela diz se aproxima da minha verdade. O sonho acabou? Nem sempre é bom colocar pontos finais com definições. Minha letra mudou muito desde que há trinta anos comecei a escrever. Perdi a personalidade de minha letra cursiva. Já não sei mais como ela é. Quem eu sou? A letra desemendada ainda sei como é. Parte de mim se perdeu. Parte de mim se transmutou e eu nem sei definir. Ir embora daqui significa tentar me encontrar em algum lugar. É sempre dentro de si mesmo, mas é que pra isso, talvez, seja necessário me isolar. A fome me chama outra vez. Tenho tido uma fome infinita, ultimamente. Navio Negreiro no mar. Mar na imensidão graúda. Não tem margem, não tem nada, nada em volta que não seja céu, mar e o navio com as pessoas... Adoro as pessoas. A fome chama. E tem a dor de cabeça. E tem sangue. E tem violência (isso vem na fala de quem me fala). Países, épocas, contextos, cultura, paz, violência. De onde a gente fala? Gosto das cores. Gosto tanto das cores! Fui interrompida. Parei.

Abril/2012

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