sábado, 26 de março de 2011

A vida numa folha
A folha inteira
O verso e o reverso
Nervos nervuras tatos (sensações)
O verso vira prosa
Prosa proa de poesia
Navio errante, ancorado em praia virgem de verão
O torso nu se contorse em torno de si
Olha pro infinito e direciona um pedido pra estrela mais distante
Olhos fechados, suspira
Braços abertos, corpo agachado
Noie cai, madrugada vem
E tudo se ilumina aos brilhos tímidos de uma lua além
Vida gira
Pomba gira
Erê criança
Festa no terreiro
Tempo de andanças
Vaivém navegar
Continua no amanhecer da esperança
Areia densa
Cavalo marinho
Assustado se cansa
Ele vai
Se despede e se lança
Novo dia se anuncia no horizonte
E segue no ritmo de quem nunca se cansa

sexta-feira, 18 de março de 2011

poema dos seis sentidos

Queria vontade de estrelas


Estrelas mortas

Memso assim, ainda aqui de baixo, chegam suas luzes duradouras

Todas elas contilantes, cada qual respeitando a sua dimensão



Queria brilho de estrelas,

Cataventos coloridos em tom pastel, girando à brisa mansa das manhãs,

Deixando a paisagem com cheiro de algodão doce e infância



Queria as montanhas macias de veludo verde que a distância cria

E as ovelhas e boizinhos de cupim nas costas que nelas pastam

Transformando a visão em maquete.



Queria manto da noite

De cetim negro cintilante

Salpicado de pó de estrelas

Envolvendo as pessoas todas

Embrulhando-as num sono profundo e restaurador

Para acordarem no dia seguinte vestidos de sensação de céu azul e luz amarelinha e morna...



Queria a canção mais bonita

Daquela de fazer a alma e o corpo cantarem uníssonos

Melodiosas notas simples e profundas



Queria abraço de criança -

a expressão mais perfeita da expontaneidade e pureza

Queria o olhar de uma criança,

De olhos grandes e novinhos

E olhar piedoso de boi zebu,

Manso, atento e sincero



Queria beijo de moço longo

Altivez embriagante e prosa de poesia eterna

Mordendo os lábios de maneira fogosa

E queimando o corpo com sabedorias de outrora

Queria esse moço de me conhecer da época em que eu ainda era estrela



Queria um suspiro

Pra aliviar todo que não presta

Pra excretar o que já precisa ir embora e teima em sedimentar



Queria afundar a mão na água mole e macia

De deslizar os dedos abertos a encostar em peixinhos dourados viscosos e escorregadios

Queria dourar minha cama d´água com esses peixinhos

E mergulhar junto deles num rio de luz



Queria acordar de mansinho,

Num espreguiçar dengoso

Esticando meus pés e me contorcendo num edredom de nuvens

Pra me aconchegar de novo

Com o vento balançando o berço no céu



Queria estar aqui e agora

Onde estou

Exatamente nesse mesmo lugar, na mesma condição

Aqui, vivo o que preciso e o que escolhi viver

Tudo isso faz parte de mim

A cadeira dura do metrô. O apinhado de gente multifacetada e multicolorida ao meu redor. O cheiro de suor. O cansaço de todo o dia e do dia anterior. O céu que escurece. O zum zum zum dos diálogos ininteligíveis. A tosse da menina ao lado. As esperanças de cada um no dia de amanhã. A minha esperança no dia de amanhã.

A minha vida.

Agora.