sexta-feira, 18 de março de 2011

poema dos seis sentidos

Queria vontade de estrelas


Estrelas mortas

Memso assim, ainda aqui de baixo, chegam suas luzes duradouras

Todas elas contilantes, cada qual respeitando a sua dimensão



Queria brilho de estrelas,

Cataventos coloridos em tom pastel, girando à brisa mansa das manhãs,

Deixando a paisagem com cheiro de algodão doce e infância



Queria as montanhas macias de veludo verde que a distância cria

E as ovelhas e boizinhos de cupim nas costas que nelas pastam

Transformando a visão em maquete.



Queria manto da noite

De cetim negro cintilante

Salpicado de pó de estrelas

Envolvendo as pessoas todas

Embrulhando-as num sono profundo e restaurador

Para acordarem no dia seguinte vestidos de sensação de céu azul e luz amarelinha e morna...



Queria a canção mais bonita

Daquela de fazer a alma e o corpo cantarem uníssonos

Melodiosas notas simples e profundas



Queria abraço de criança -

a expressão mais perfeita da expontaneidade e pureza

Queria o olhar de uma criança,

De olhos grandes e novinhos

E olhar piedoso de boi zebu,

Manso, atento e sincero



Queria beijo de moço longo

Altivez embriagante e prosa de poesia eterna

Mordendo os lábios de maneira fogosa

E queimando o corpo com sabedorias de outrora

Queria esse moço de me conhecer da época em que eu ainda era estrela



Queria um suspiro

Pra aliviar todo que não presta

Pra excretar o que já precisa ir embora e teima em sedimentar



Queria afundar a mão na água mole e macia

De deslizar os dedos abertos a encostar em peixinhos dourados viscosos e escorregadios

Queria dourar minha cama d´água com esses peixinhos

E mergulhar junto deles num rio de luz



Queria acordar de mansinho,

Num espreguiçar dengoso

Esticando meus pés e me contorcendo num edredom de nuvens

Pra me aconchegar de novo

Com o vento balançando o berço no céu



Queria estar aqui e agora

Onde estou

Exatamente nesse mesmo lugar, na mesma condição

Aqui, vivo o que preciso e o que escolhi viver

Tudo isso faz parte de mim

A cadeira dura do metrô. O apinhado de gente multifacetada e multicolorida ao meu redor. O cheiro de suor. O cansaço de todo o dia e do dia anterior. O céu que escurece. O zum zum zum dos diálogos ininteligíveis. A tosse da menina ao lado. As esperanças de cada um no dia de amanhã. A minha esperança no dia de amanhã.

A minha vida.

Agora.

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